sem ela não há desenvolvimento sustentável

Os dados do Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2020 neste Dia Mundial da Água são devastadores. Antes da pandemia, pelo menos 2,2 bilhões de pessoas no mundo não tinham acesso a água potável e 4,2 bilhões careciam de saneamento. O mesmo relatório estima que a escassez de água pode deslocar cerca de 700 milhões de pessoas até 2030.

Garantir a disponibilidade de águasua gestão sustentável e saneamento para todos está incluída como Objetivo 6 (“Água Limpa e Saneamento”) entre os 17 Objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Nações Unidas em 2015. Como mostram os números, ainda estamos longe de alcançá-lo.

As áreas mais vulneráveis

Estamos em um cenário de emergência hídrica, onde a soma dos efeitos da mudança climática – com mudanças acentuadas nas chuvas e aumento da temperatura – com os efeitos derivados da aumento imparável da procura de recursos hídricos – devido ao crescimento populacional e ao desenvolvimento socioeconômico – está causando um impacto negativo severo na disponibilidade (em termos de qualidade e quantidade) de água doce em muitas regiões do planeta.

Onde o recurso é mais escasso, um efeito de feedback é produzido por o alto aproveitamento em proporção à água doce disponívelo que, por sua vez, causa alto estresse hídrico.

Gráfico de barras mostrando a porcentagem de estresse hídrico para o Norte da África (102,9%), Ásia Central (87,9%), Sul da Ásia (70,7%), Oeste da Ásia (53,8%), Leste da Ásia (45,8%) e todos (17%).
Níveis de estresse hídrico (retirada de água doce em proporção aos recursos de água doce disponíveis). Sub-regiões mundiais com estresse hídrico (em %) acima de 45% em 2017. Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de 2020

Muitas das áreas com alto estresse hídrico são precisamente lcomo menos desenvolvido, aqueles que estão mais longe de alcançar os ODS. Nesses casos, a disponibilidade de água potável segura e saneamento são especialmente críticos para alcançar os ODS que estão incluídos na dimensão humana dos objetivos da Agenda 2030embora sejam também para o alcance dos ODS nas dimensões ambiental e socioeconômica.

Por outro lado, avançar em direção à meta hídrica requer inevitavelmente progressos na dimensão da governação.

Com esta análise, é preciso reformular e redefinir as três dimensões tradicionais (social, econômica e ambiental) do desenvolvimento sustentável e da água).

Infográfico mostrando com setas a relação bidirecional entre o ODS 6 e o ​​restante dos ODS.
Dimensões dos ODS e relação com o ODS 6. Autor fornecido

Água, pobreza e fome

As inter-relações entre os diferentes ODS são altamente condicionadas pelo contexto geográfico em que a análise é aplicada. É o caso do ODS 6, para o qual Muitas dessas inter-relações com outros ODS são extremamente sensíveis ao grau de desenvolvimento da população.

No mundo, 1,2 bilhão de pessoas vivem em extrema pobreza (ODS 1). Destes, aproximadamente metade são jovens e crianças menores de 18 anos. Embora a falta de água e saneamento não é a única causa da pobrezaSim, é um fator chave.

Cerca de 1.000 milhões de pessoas pobres não têm saneamento ou acesso a água potável, e aproximadamente 437 milhões são privados de ambos. A maior população pobre concentra-se justamente em duas das regiões com maior estresse hídrico: Sul da Ásia e África Subsaariana.

Intimamente relacionada à pobreza, quase 78% dos pobres do mundo sofrem de fome crônica. Esta população é fundamentalmente rural, sendo a sua alimentação baseada na agricultura e, em menor escala, na pecuária, ambas altamente dependentes da disponibilidade de água.

As regiões do mundo com maior prevalência de insegurança alimentar também correspondem à África subsaariana e à Ásia central e meridional. O situação de estresse hídrico nessas áreas não permite água para irrigação e assim poder reduzir a insegurança alimentar.

Saneamento e saúde

O acesso à água potável segura e ao saneamento tem importantes efeitos diretos, mas também indiretos, sobre a saúde. A água não tratada é um veículo de patógenos e, sem água, a higiene pessoal, se houver, é incompleta ou inadequada.

A falta de saneamento gera massas de água superficiais favoráveis ​​ao desenvolvimento de organismos vetores de doenças. A falta de controle e tratamento na captação de água doce e no descarte de efluentes também pode representar uma ameaça à saúde devido à existência de contaminantes químicos.

Irrigação e processamento de alimentos com esgoto não tratado É outra causa de transmissão de doenças.

Desigualdade no acesso à água

A desigualdade no acesso à água e ao saneamento gera desigualdade econômica e vice-versa, em um sistema retroalimentado. Os mais pobres não só têm menos acesso à água, como também têm menos acesso aos centros de decisão sobre a gestão de recursos. Isto faz também são os mais vulneráveis ​​a eventos extremos (secas e inundações).

Já nas áreas rurais, a desigualdade no acesso e controle dos recursos hídricos é maior, sendo mais acentuada entre os gêneros. Lá, a falta de acesso à água potável e ao saneamento tem um impacto maior nas mulheres e meninas, que estão (em 8 em cada 10 domicílios sem acesso à água corrente) responsáveis ​​pela captação e transporte de água. Gera-se um duplo efeito que dificulta o acesso das meninas à escola: aos escassos meios de higiene soma-se o trabalho para o abastecimento de água em casa.

Pobreza hídrica e desenvolvimento no Dia Mundial da Água

No atual cenário de emergência hídrica, a água é um fator crítico para o desenvolvimento sustentável. Se quisermos avançar nisso, principalmente nas áreas de maior estresse hídrico, é fundamental desenvolver as ferramentas necessárias para garantir o acesso ao recurso, que será cada vez mais escasso e demandado.

É nessas áreas que, além disso, a maior pobreza do mundo está concentrada. Por isso, algumas das estratégias de sustentabilidade hídrica utilizadas nos países desenvolvidos são inúteis: não há economia se não houver água, não há reúso se não houver saneamento e não há gestão se não houver infraestrutura.

O progresso nas metas e objetivos relacionados à água ainda está longe de ser satisfatório. Hoje, 22 de março, tem início a Conferência das Nações Unidas sobre a Água de 2023. Esperemos que estabeleça a agenda para uma ação ousada e verdadeiramente impulsionadora – especialmente nas regiões mais carentes – que a água merece

Javier Lillo Ramos, Professor de Geodinâmica e pesquisador em geologia e mudança global, Universidade Rey Juan Carlos

Este artigo foi originalmente publicado no The Conversation. Leia o original.

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